Lêmures podem revolucionar viagem espaciais !


O próximo grande salto da humanidade será enviar seres humanos, não robôs, em longas jornadas espaciais. No entanto, nossa biologia é um grande fator limitante. Com as atuais técnicas de propulsão, uma viagem a Marte demoraria no mínimo seis meses, e uma viagem aos confins do sistema solar levaria anos.

Mesmo contando com possíveis avanços nas tecnologias de propulsão, uma viagem às estrelas mais próximas do nosso planeta levaria uma ou duas gerações para acontecer. E durante todo esse tempo, a tripulação a bordo enfrentaria problemas de saúde, degeneração do cérebro pelo envelhecimento, e um tédio inevitável; isso sem mencionar as rixas entre os membros da tripulação, que poderiam durar décadas.

Para tentar driblar estas limitações do homem no espaço, muitas ideias borbulharam nas mentes criativas da ficção científica – como o sono criogênico induzido, um tipo de animação suspensa. Entretanto, não se sabe exatamente quais são os efeitos da criogenia no corpo humano, e ainda há um longo debate sobre o conceito de “congelamento durante anos-luz”.

Agora, a genética pode nos dar uma mãozinha na forma do minúsculo primata Cheirogaleus medius, o lêmure-anão-de-cauda-gorda.

Este pequeno morador da Ilha de Madagascar, um dos menores mamíferos do mundo, tem uma habilidade surpreendente: é o único primata capaz de hibernar, e por mais estranho que pareça, ele hiberna em épocas quentes e secas. Enquanto os mamíferos hibernadores costumam entrar em dormência em invernos rigorosos, o Cheirogaleus medius faz o contrário.

Em um estudo publicado pela revista científica PLOS One, pesquisadores da Universidade de Duke que investigavam a capacidade de hibernação do C. Medius chegaram a conclusões fascinantes. O estudo do estado letárgico desses primatas pode ser de grande ajuda no tratamento de vítimas de ataques cardíacos, derrames e traumatismos cranianos, e ainda ajudar a solucionar o problema das viagens espaciais de longa duração.

“Ele é nosso parente mais próximo a hibernar e a fonte mais provável de informações importantes, o que pode nos ajudar a entender como induzir estados similares à hibernação em seres humanos”, explica o psiquiatra Andrew D. Krystal, diretor do Laboratório de Sono da Escola Médica de Duke, em entrevista ao Los Angeles Times. “Como ir até um determinado ponto do espaço se a viagem leva cem anos?”, questiona Krystal. “Teríamos que induzir um período de hibernação para que a pessoa conseguisse chegar ao destino, sobreviver e retornar”.

Ao estudar a relação entre a temperatura e o metabolismo do lêmure, os pesquisadores descobriram que ele entra rapidamente em REM (movimentos oculares rápidos) na hibernação, o que não ocorre com outros mamíferos.

Estudos com o esquilo-do-ártico, por exemplo, revelaram que eles aceleram ocasionalmente seu metabolismo para entrar em um estado de dormência sem REM. Ao que parece, o sono é tão precioso para os esquilos que eles despendem mais energia para garantir um descanso profundo durante a hibernação.

“O sono parece ser algo tão importante para esses animais que eles despertam de seu estado de torpor, um processo metabolicamente dispendioso”, explica Krystal. “Tem que haver uma boa razão para isso, que pode não ser o sono, mas parece estar ligada ao processo”. Já o C.Medius hiberna em altas temperaturas e entra prontamente no sono em REM.

Se pudermos compreender essa característica genética, podemos achar uma forma de manipulá-la para nossos próprios fins. Por meio da terapia genética, poderíamos modificar nossa fisiologia a ponto de entrar em estado de hibernação, mas mantendo o sono REM.

Voos espaciais de longa duração poderiam ser drasticamente reduzidos para a tripulação, ao mesmo tempo em que os astronautas usufruiriam dos benefícios do sono, o que tornaria as viagens interplanetárias e interestelares um pouco mais suportáveis.

“Há todo tipo de possibilidades interessantes, que parecem saídas da ficção científica” afirma Krystal. “Mas nosso foco são as aplicações médicas. É o nosso objetivo de longo prazo”.

Por Ian O’Neill

fonte animal planet

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